Drummond !

E Agora José ?

A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

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JOSÉ !

José Não Tem Amigos
José Não é Ninguém
José Sem Esperança
José Esperando Alguém

José é Mau
José Normal
José Está Mal
José Imortal

José Não Sabe Votar
José Não Te Conhece
José Não Sabe Sambar
José Não Te Esquece

José é Cabeludo
José Já Foi Careca
José Já Foi Barbudo
José e Sua Caneca

José Não Grita Amém
José Bebe da Taça
José é Você Também
José Não Tem Mais Graça

José é Namorado
José é Um Amante
José Bem Confortado
José Bem Amaciante

José Perdeu o Emprego
José Saiu de Casa
José em Desespero
José Está Em Brasa

José Muito Excitado
José Alegremente
José Envergonhado
José Está Ausente

José e Suas Carícias
José Passa a Mão
José Chamou a Polícia
José Teve um Tesão

José na Baladinha
José no Show Pesado
José e Sua Rainha
José e Seu Reinado

José, José
Me Diga o Que Você Quer
José, José
José Já Foi o Que Vier.

22/04/2008

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